data-filename="retriever" style="width: 100%;">Há 60 anos, no dia 25 de agosto, o presidente Jânio, intempestivamente, enviou bilhete ao Congresso Nacional renunciando à presidência da República. O governo, eleito para ficar no poder por cinco anos, findou antes de completar sete meses.
Tudo indica que a renúncia pretendia ser o primeiro passo de um autogolpe de Estado. Jânio jogava com a possibilidade de que a renúncia não seria aceita pelo Congresso, e o povo e as Forças Armadas o reconduziriam à presidência, proporcionando a ele impor condições, principalmente obter mais poder de mando do que o previsto pela Constituição de 1946. Nos planos do autogolpe, Jânio esperava se transformar num presidente com superpoderes.
Jânio errou a cartada. O Congresso Nacional aceitou a renúncia sem nenhum questionamento e ele, tendo arrastado o país para uma crise que desaguou em 1964, foi para o lixo da história.
A surpresa foram o momento e a forma do autogolpe. Já havia sérios indícios de que o clima golpista se manifestava durante todo o curto governo do "homem da vassoura". Jânio era extravagante, condecorou Che Guevara com a Gram Cruz da ordem nacional do Cruzeiro do Sul, mas, quando estudantes universitários de Recife fizeram greve, depois que o diretor da Faculdade de Direito tentou impedir uma palestra da mãe do mesmo Che Guevara na instituição, o presidente mandou tanques do Exército e até navios da Marinha reprimirem o movimento estudantil. Uma demonstração exagerada e gratuita de força.
Sem qualquer razoabilidade, em outra oportunidade, transferiu a sede do governo federal provisoriamente de Brasília para São Paulo. Alegava que era tramado um golpe contra ele e que, na capital paulista, seu reduto eleitoral, poderia melhor se defender.
Determinou sindicância para devassar o governo de Juscelino Kubitschek e, sem provas, acusou que Jango cometera irregularidades. Com o episódio, o presidente fabricou a ilusão de que o país estava mergulhado numa crise política.
O golpismo de Jânio Quadros tinha base na sua aversão à negociação e à divisão do poder. Se elegeu com o discurso de que não gostava dos partidos e dos políticos e que varreria para sempre a corrupção do Brasil.
Nas palavras do senador Argemiro de Figueiredo (PTB-PB), em discursou, logo após a renúncia, disse que o Congresso não caiu na armadilha de Jânio: "A renúncia ao governo foi a tática premeditada de um homem que se julgava o único capaz de reorganizar a vida nacional. Renunciou como Bolívar, para voltar mais forte.
Nunca pensou que lhe aceitariam a renúncia. Esperou retornar ao governo nos braços do povo e das Forças Armadas para dirigir a nação como a queria governar: sozinho, mandando sozinho. A renúncia foi a primeira etapa do processo de uma ditadura que se tinha em vista".
Golpe é como ovo da serpente posto a chocar. Todos podem constatar, mas, se não for quebrado a tempo, chega um momento que ele nasce. No caso de Jânio foi natimorto.